domingo, 21 de agosto de 2011

Solenidade da Assunção da Santíssima Virgem Maria

Muitos de nossos contemporâneos, devido à influência do liberalismo, talvez preferissem deixar cair no esquecimento o grande acontecimento, ocorrido no dia 1º de novembro de 1950, quando o Papa Pio XII definiu, por meio da Constituição dogmáticaMunificentissimus Deus, a gloriosa Assunção de Nossa Senhora ao Céu.
A doutrina católica ensina que, após a morte, nossa alma se apresenta ante o Juízo de Deus, enquanto nosso corpo permanece nesta Terra aguardando a ressurreição final, quando voltará a se juntar à nossa alma para ser feliz no céu ou infeliz no inferno, por toda a eternidade. Tal é a lei para o comum dos homens.
Mas Nossa Senhora recebeu de Deus uma série de privilégios e graças que a fizeram imensamente elevada acima de qualquer um de nós. Ela foi concebida sem pecado original, foi Virgem sempre, mesmo sendo mãe, e gerou o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, unido hipostaticamente à Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, portanto é Mãe de Deus. É compreensível, pois, Deus tenha querido estabelecer mais uma gloriosa exceção para sua Santíssima Mãe: em vez de seu corpo ficar num sepulcro, subiu ele aos Céus para receber desde logo o prêmio eterno e ser coroada Rainha do Céu e da Terra.
Qualquer filho, se pudesse, faria algo muito especial por sua mãe. E como não iria fazê-lo o melhor dos filhos que houve e haverá neste mundo, o próprio Jesus Cristo?
Assim, em virtude de mais uma predileção de Deus por Aquela que é a obra-prima da Criação, Nossa Senhora já se encontra no Céu com sua alma e seu corpo imaculados.
No fundo da recusa, um problema filosófico
Mas por que se nota a recusa de anticatólicos e até a incompreensão de alguns católicos, diante de uma verdade tão bela?
O problema resume-se no seguinte: há verdades que devemos crer mesmo que estejam acima de nossa inteligência e não as entendamos. A razão humana não abarca todo o conhecimento. Como Deus é infinitamente superior a nós, certas manifestações dEle excedem nossa capacidade de compreensão. “A palavra de Deus, revelada e comunicada aos homens, fica em perfeita equação com o pensamento divino ou com a verdade; e como o pensamento de Deus é infinito assim como a sua natureza, a sua palavra nos comunicará verdades que ultrapassam e sempre ultrapassarão o círculo finito e limitado da nossa inteligência" (1).


Essas manifestações da superioridade divina podem ser inacessíveis à razão ou não. Caso o sejam, são denominadas mistérios. O mistério não é contrário à razão humana, mas está acima dela. Muitas verdades, contudo,  podem ser conhecidas por meio da razão.
Seja num caso ou noutro, a Igreja Católica ensina essas verdades reveladas por Deus. E em alguns casos o faz solenemente por meio de um "Dogma”Dogma é uma palavra de origem grega que significa decisão, decreto. O catecismo católico ensina-nos que todo dogma é uma "verdade revelada por Deus e proposta pela Igreja à nossa crença" (2).


E aqui chegamos ao cerne do problema: a Igreja manda-nos crer nos dogmas – verdades que podemos não compreender devido a  alguma limitação nossa.
Para um homem orgulhoso, que rejeita a fé – como o são milhões hoje em dia –, que julga entender tudo, quando não entende, despreza a afirmação dogmática como não sendo verdadeira.
Fundamentos do Dogma da Assunção

"Sendo o dogma, antes de tudo, uma verdade revelada por Deus, trata-se de saber onde se acha exarada a revelação divina. A fonte da revelação é dupla: a) a Escritura Sagrada [a Bíblia]; b) a Tradição" (3). Este é um artigo de Fé, definido pelos Concílios de Trento e do Vaticano I. Esclarecemos que constituem a Tradição "as verdades ensinadas por Jesus Cristo e pelos Apóstolos e transmitidas, de século a século, por outro caminho que não seja a Escritura Sagrada" (4).
No caso concreto da Assunção, a doutrina sobre ela está implícita na Sagrada Escritura e é muito abundante na Tradição da Igreja, especialmente desde o século IV. Numerosos escritos atestam essa tradição desde o início da Igreja. Vários santos assistiram à morte de Maria Santíssima, além dos Apóstolos presentes.
Dada a triste situação da humanidade durante o paganismo, a Igreja teve de esperar seu triunfo para revelar as verdades sobre Nossa Senhora. Caso contrário, corria-se o risco de os pagãos a venerarem como deusa. Quando adveio o triunfo da Igreja, houve uma verdadeira floração de santos que então puderam falar sobre Ela – entre eles Santo Efrém, o sírio, e São Gregório de Tours – e apareceram numerosas liturgias para honrá-La. Isto fala por si. A devoção à Assunção de Nossa Senhora existia já nas catacumbas, e desde que não mais houve o perigo acima referido, começou-se a tratar largamente o tema.
“A Assunção de Maria foi sempre ensinada em todas as escolas de teologia, e não há voz discordante entre os doutores", observa o Pe. Júlio Maria (5). Havendo uma tal concordância entre todos os teólogos a respeito da matéria, compreende-se que 2.505 Bispos tenham solicitado ao Papa Pio XII que declarasse tal verdade como Dogma.
Em nossos dias... silêncio
Em nossos dias, nota-se um certo silêncio sobre esse e  outros dogmas. Esta é uma razão a mais para celebrarmos o privilégio concedido a Nossa Mãe celestial mediante a sua Assunção. E lembrarmos que este constituiu tremenda derrota do demônio. "Como a gloriosa ressurreição de Cristo foi parte essencial e signo final desta vitória [contra o inimigo infernal], assim também para Maria a comum luta deveria concluir com a glorificação de seu corpo virginal”, comenta o conhecido mariólogo Alastruey (6).
Nossa Senhora humilhou o demônio por meio de sua vida santa, sua Imaculada Conceição, sua virgindade, sua humildade. A decomposição do corpo no túmulo é um castigo fruto do pecado original, o qual jamais tisnou a alma santíssima de Nossa Senhora.
 Por isso celebramos hoje, com júbilo, meio século da proclamação desse dogma. Como seus filhos, é para nós sumamente grato comemorar mais uma vitória dEla, eterna, rutilante, fecunda.
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NOTAS:
1 –Mons. Cauly, Instrução religiosa, Tomo IV, p. 19.
2 –Mons. Boulenger, Doutrina Católica, Ed. do Brasil, São Paulo, 1963, p. 24.
3 – Idem, p. 25.
4 – Idem, p. 29.
5 – A Mulher Bendita, Pe. Júlio Maria, S.D.N., Editora O Lutador, 2a edição, Manhumirim, 1949, 261.
6 – Gregorio Alastruey, Tratado de la Virgem Santíssima, Bac, Madrid, 1961, p. 491.

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