Liturgia da Paixão
A primeira parte da liturgia de hoje reproduz as
antigas assembléias cristãs de leitura da palavra de Deus e de orações,
celebradas durante a semana. A Eucaristia era celebrada somente nos domingos.
Até o ano 500 era essa a única função litúrgica da sexta-feira santa; começava à
tarde, às três horas, quando terminava o jejum solene. Inicialmente havia três
leituras, como também as encontramos na liturgia atual. Seguem-se as solenes
orações que, como sempre eram rezadas antes do Ofertório da Missa. Depois do
século VI essas orações desapareceram da liturgia, restando apenas na
sexta-feira santa. Hoje em dia elas foram novamente introduzidas na liturgia e
já estamos acostumados com elas: são as orações dos fiéis que rezamos na missa
principalmente dos domingos.
Como em Jerusalém, também em Roma, a cerimônia
era realizada quase em silêncio total. Só bem depois é que surgiram cantos e
hinos que temos até hoje em dia. Aos poucos a cerimônia já não se prendeu à
veneração da relíquia da cruz verdadeira, venerando uma simples cruz, mais
claramente o culto se voltava para a pessoa do Redentor. É bom lembrar que a
palavra “Adoração” indica uma veneração, uma homenagem prestada à cruz que nos
lembra a redenção. É somente a Deus que nós prestamos verdadeira adoração,
enquanto essa palavra é tomada no seu sentido rigoroso de “reconhecer a
divindade de alguém”.
A terceira parte da liturgia de hoje é a
Comunhão, ou a assim chamada “Missa dos pré-santificados”. Não é propriamente
“Missa”, porque não é feita a consagração. É apenas um rito de comunhão.
Chama-se “Missa dos pré-santificados”, porque o pão eucarístico foi consagrado
na missa da quinta-feira santa. Na Igreja antiga, como já vimos, havia vários
dias em que não se celebrava a missa: havia apenas as leituras e a cerimônia da
comunhão. Alias hoje em dia se torna sempre mais comum que, nos lugares onde não
há missa, seja feito um “Culto da Palavra”, com leituras e cantos, terminando
com a comunhão distribuída até mesmo por um leigo. Nos tempos mais antigos não
havia nem a comunhão na sexta-feira santa.
Parece que o costume começou apenas lá pelos anos
700 mais ou menos. Depois de algum tempo, a comunhão do povo foi novamente
desaparecendo. Deixou de existir totalmente a partir de 1600 e pouco e foi
reintroduzida somente pela reforma de Pio XII em 1956.
Pe. Inácio Medeiros, CSsRSantuário
Nacional de Aparecida
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