ESTRUTURA GEOMÉTRICA
Como todo ícone, este também foi "escrito" com base numa estrutura
geométrica muito precisa, na qual cada elemento tem uma proporção estabelecida
em relação aos outros e encontra o seu lugar segundo o seu significado e o seu
valor simbólico. Essa estrutura dá equilíbrio e harmonia a todo o conjunto.
Toda composição do ícone de Rublev
foi construída sobre a Cruz, que constitui a estrutura geométrica principal. A
sua vertical, como eixo central (E-P), liga a árvore, a cabeça do anjo central,
o cálice e o retângulo dos mártires. A linha horizontal da cruz (F-G), liga a
cabeça dos anjos laterais, passando pela fronte do anjo central, desde a
arquitetura até o monte.
Os anjos aparecem sob um círculo que
indica a plenitude e a perfeição e sublinha a circularidade dos olhares de Amor
das Três Pessoas. A mão do anjo central é o centro da circunferência, onde
estão as três cabeças.
Também o cálice, com a cabeça do
cordeiro imolado sobre o altar, está dentro de um círculo, em torno do qual se
concentram todos os outros, constituindo assim, o centro móvem do ícone. Acima
da cabeça do anjo central (E) forma a ponta do triângulo, cuja base (A-B) é a
linha inferior do ícone. O segundo triângulo se apresenta inverso. Sua base
(C-D) é a linha superior do ícone.
Todo o ícone está inscrito em um
octógono. "O número oito simboliza o poder celestial na Terra, o dia após
o sétimo dia da criação, a ressurreição de Cristo e o começo da
perfeição. A figura geométrica octógono, já é símbolo da perfeição desde a
Antiguidade. É a fusão entre o infinito, o céu (círculo) e a área delimitada,
os quatro pontos cardeais terrenos (quadrado)", o número simbólico dos
quatro evangelistas: é o sinal da universalidade da Palavra.
O espaço compreendido entre os dois
anjos laterais assume a forma de um cálice que sobe de baixo: o Pai e o
Espírito Santo "contém" o Corpo e o Sangue de Cristo.
OS TRÊS ANJOS
Os três anjos, perfeitamente iguais e, todavia diferenciados, representam um só
Deus em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
É próprio da Santíssima Trindade
diversificar, quanto ser una e indivisível, na sua essência e nas suas
manifestações, embora na diversidade das Pessoas. Conhecemos o Pai através do
Filho:Quem me vê, vê o Pai (Jo 14,19). Conhecemos o Filho através
do Espírito Santo: Ninguém pode dizer Jesus Cristo é o Senhor, senão
por meio do Espírito Santo (1 Cor 12, 3).
Os cetros idênticos indicam a
igualdade do poder do qual cada anjo é dotado. A diversidade é expressa através
das cores das roupas, mas sobretudo pela atitude pessoal de cada um em relação
aos outros.
No anjo da esquerda se reconhece a
figura Pai, no anjo central a do Filho e no anjo da direita a figura do
Espírito Santo.
O PAI
O anjo da esquerda, o Pai, veste um
manto lilás sobre uma túnica azul, símbolo da sua divindade. O lilás é uma cor
evanescente, quase transparente, sinal do mistério e da transcendência.
O seu manto cobre os seus dois
ombros, ao contrário do Filho e do Espírito, porque Ele não é enviado, mas
envia os outros. Este seu envio é indicado também é indicado pelo pé esquerdo,
que parece estar iniciando um passo de dança, ao qual o Espírito, enviado ao
mundo depois do Filho, responde.
Tudo converge para ele, como para a
fonte: os outros dois anjos, a rocha, a casa e a árvore. Está estático, reto,
porque esta pessoa é a origem de si mesma: é o sinal da majestade e a
referência para os outros dois.
O gesto da mão e o olhar parecem
confiar uma missão ao Filho que a acolhe, curvado, em sinal de consentimento.
As suas mão não tocam a Terra-altar, mas a abençoam com os dois dedos da mão
direita levantados; Ele não está no mundo. A cabeça inclinada indica que ele
acolhe a oferta amorosa do Filho.
O FILHO
O anjo central, o Filho, traja a túnica vermelha: simbolo da natureza humana
assumida na encarnação; o manto azul é sinal da natureza divina da qual se
"vestiu" depois da sua vida na terra e cobre um só ombro, porque Ele
é enviado pelo Pai. A estola dourada indica a sua missão vitoriosa do Cristo
"sumo sacerdote", que se deu a si mesmo para a salvação do mundo e
ressuscitou.
O seu corpo curvado e o olhar de Amor
voltado para o Pai indicam a aceitação e a docilidade à vontade paterna. Está
comunicando com o Pai a respeito da missão que cumpriu.
A sua mão direita, apoiada à
Terra-altar, é a mais próxima do cálice da oferta, porque ele é a oferta
simbolizada pela cabeça do cordeiro. A mão reproduz o gesto de abençoar do Pai
e o ato de apoiá-la à Terra-altar, indica a sua descida ao mundo através da
encarnação; os dois dedos são símbolo das suas duas naturezas: Ele é plenamente
Deus e plenamente homem.
O ESPÍRITO SANTO
O anjo da direita, o Espírito Santo,
traz a túnica azul, símbolo da sua divindade, um manto verde-água, cor da vida,
do crescimento e da fertilidade. No campo espiritual o verde é o símbolo da
força vivificante do Espírito, que ressuscitou Cristo e comunicou ao mundo a
plenitude do significado da Ressurreição.
É Ele quem dá a vida: o Espírito de
Amor e da comunhão. Dos três, este é o anjo que tem a expressão mais reservada.
A sua figura é a mais curvada sobre a
mesa, em atitude de escuta, de humildade e de docilidade. Revela-nos um aspecto
novo do Amor, tipicamente feminino, que é também necessidade de ser acolhido,
protegido, para ser fecundado.
A sua mão pendente sobre a
Terra-altar indica a direção da bênção: o mundo ao qual o Espírito dá vida e
crescimento, fazendo germinar o cálice do sacrifício e o seu fruto.
O Espírito está participando
profundamente do diálogo divino e está pronto para ser enviado ao mundo para
continuar a obra do Filho. O manto, apoiado sobre um dos seus ombros e o pé que
está respondendo à dança iniciada pelo Pai, são símbolos do seu estar preparado
para partir para cumprir a missão que lhe foi confiada: Quando o
Espírito vier, Ele vos guiará a verdade toda inteira... dirá tudo que já foi
dito e lhes anunciará as coisas futuras (Jo 16, 13).
Todo o simbolismo iconográfico do ícone da Trindade nos mostra a tese
eclesiológica fundamental: a Igreja é uma revelação do Pai no Filho e no Espírito
Santo.
OS OUTROS ELEMENTOS
Atrás do Pai se vê a casa de Abraão,
que se tornou templo, morada do Pai e símbolo da Igreja, sua Filha, porque
"corpo" de Cristo, segundo a teologia paulina.
O carvalho de Mambré se transforma na
árvore da vida: a cruz de Cristo, o homem novo, pagou o resgate da humanidade.
A rocha-monte atrás do Espírito Santo
é, ao mesmo tempo, símbolo de proteção, de lugar "teofânico", isto é,
lugar onde Deus se manivesta e símbolo da ascensão espiritual.
O vitelo ofertado por Sara numa
bandeja se torna o cálice eucarístico.
O ouro, símbolo da luz divina: o
fundo e as auréolas douradas são símbolos da luz divina, como o sol é fonte de
toda luz e cor.
No ícone a luz não é natural, mas
espiritual; provém da graça recebida, por meio do Espírito, antes de tudo pelo
iconógrafo, na contemplação do mistério que ele vai representar, depois por
quem contempla o ícone com a mesma atitude de oração.
Fonte bibliográfica:
SENDLER, Egon. L'ICONA: immagine
dell'invisibile - Elementi di teologia, estética e tecnica. Milano: San
Paolo, 1985.
Comunità Missionaria di Villaregia. Ícone
da Santíssima Trindade.Disponível em: www.cmv.it
Wikipédia: A enciclopédia livre. Catedral
de Aachen. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Catedral_de_Aachen